Sobre o enorme desafio de se manter uma escola tão necessária e plural, a diretora da ENFF, Rosana Fernandes lembra que a manutenção de um projeto popular e emancipador de Educação não é uma tarefa das mais fáceis, mas há caminhos possíveis, e um forte núcleo de apoiadores, mas que precisa ser ampliado. Destacou também a importância da Associação de Amigos neste processo.
Todos os professores da ENFF são voluntários, ou seja, 100% do Corpo Docente cede sua mão de obra gratuitamente, por acreditar no projeto da escola, e o fazem como uma forma de doação à educação popular. “Nós não pagamos nenhuma hora aula a ninguém; o que a gente faz pelos professores é garantir o deslocamento, e tem alguns inclusive que fazem questão de vir com seu carro, sua gasolina, e não querer nada de contribuição. O professor José Paulo Neto, por exemplo, vem para a escola e ele paga a sua passagem do Rio de Janeiro para cá de ônibus, e a gente busca ele na rodoviária; são exemplos dessa solidariedade. Há voluntários do tempo-aula, que às vezes ficam aqui três dias, uma semana, trabalhando com as turmas, sem haver a questão econômica, é por militância, por acreditar no projeto”.
Quanto à sustentação das despesas da Escola Nacional Florestan Fernandes, Rosana explica que há três grandes frentes, uma delas o próprio MST, que nesses 36 anos de história construiu várias cooperativas de produção de determinados alimentos, alguns doados à ENFF para uso no refeitório. Por exemplo, o arroz que a escola consome durante o ano todo, vem da Cooperativa do Rio Grande do Sul, do arroz agroecológico; o café, uma parte vem de Minas, outra parte vem do Espírito Santo; o açúcar mascavo vem de Santa Catarina, que também envia leite e derivados, suco de uva, enfim. Então, uma grande parte do que a escola teria de comprar vem das Cooperativas.
Parte dos alimentos consumidos também é produzida na própria Horta e Pomar da escola, frutas, hortaliças. No dia a dia o setor de produção internamente também dá conta de abastecer o refeitório com saladas. Também há pequenos produtores da região de Guararema, que fornecem à escola com preços muito acessíveis, os itens que não são doados, apesar de necessários, como algumas leguminosas não produzidas na escola.
“Uma outra frente é a Associação dos Amigos da ENFF, a gente tem uma média mensal de contribuição que garante o básico do pagamento da água, da energia, e algum material pedagógico que é necessário; a Associação tem mantido uma regularidade de contribuição que consegue custear esses gastos”, afirma Rosana.
Outra frente de custeio são alguns projetos mais específicos na área de formação que a escola realiza com o apoio da Comunidade Internacional. “Nós temos, por exemplo, a Fundação Rosa Luxemburgo, que consegue nos manter um orçamento para determinadas atividades formativas na escola”. A ENFF tem projetos bem específicos nas áreas da Agroecologia, dos Direitos Humanos, Gênero, Diversidade Sexual, por exemplo. “Então a gente consegue projetos que vão mais especificamente para cada curso que é realizado” com o apoio de fundações internacionais.
“O MST desde o princípio tomou a sábia decisão de que a Escola não estaria buscando, pleiteando editais de recursos públicos, sejam do Estado, do Município ou do Governo Federal”, explica Rosana Fernandes, afirmando que a Escola mantém essa isenção, de não ser financiada por dinheiro de nenhum órgão público ou governamental. “Isso coloca mais autonomia no nosso fazer formativo e tudo o mais”.
Finalizando, a diretora da ENFF, Rosana Fernandes diz: “Quero reafirmar nesses 15 anos da escola o compromisso de continuar, oxalá mais 15, mais 15, a depender da demanda que a classe trabalhadora colocar para a escola, de a gente seguir fazendo o que aprendeu a fazer ao longo dessa história toda, de organizar processos emancipatórios de formação humana com vista ao Socialismo, num projeto de sociedade da classe trabalhadora. Se eu não ver (concretizado), quero que os meus netos possam vê-lo”.
(Comunicação AAENFF)