Sobre a importância da Educação Popular diante da atual conjuntura social e política tão complicadas do Brasil que estamos vivendo, a diretora da ENFF, Rosana Fernandes diz que a Escola Nacional Florestan Fernandes se tornou uma grande referência para a classe trabalhadora brasileira, latino-americana e até para experiências de outros Continentes.
“O MST, quando decidiu construir a Escola não pensou que ela pudesse chegar a tanto; no início foi uma decisão baseada no processo de formação da militância do MST, ou no máximo da Via Campesina e de organizações brasileiras”. Mas a Escola adquiriu uma enorme importância, segundo ela, pela própria “dinâmica da luta de classes, de uma necessidade, de uma carência nesses processos de formação, e que foi demandando a ENFF para poder organizar esses processos de formação”.
Pensando no que sustenta esses processos de formação da Escola, seu método pedagógico, existem três grandes fontes de sustentação, três fundamentos: um deles é a Educação Popular, compreendida como essa base que a classe trabalhadora constituiu de diálogo com o povo, esses sujeitos que vão fazer a transformação. Paulo Freire é o grande mestre quando se trata da educação popular, na perspectiva de que, se não são os próprios sujeitos que vão fazer as mudanças, não vai haver mudança. Ou seja, formar o povo para que ele próprio dê conta da transformação social de que almeja.
Em cada curso ou programa realizado pela ENFF existem as metodologias próprias, adequadas e organizadas a cada público. Um dos fundamentos desse método é a Educação Popular.
O segundo fundamento é a Pedagogia Socialista, que leva a Escola a ‘beber nos clássicos’, especialmente nos pedagogos da revolução russa, nesse processo da formação humana. Ou seja, como pensar e organizar uma escola onde se busca a emancipação da classe trabalhadora, desses sujeitos, baseados em princípios e valores socialistas, no sentido de materializar este projeto. Há muitos estudos sobre Krúpskaya, Makarenko, Pistrak, e a questão do trabalho como princípio educativo.
Há uma referência muito forte com Cuba neste projeto da Pedagogia Socialista também, já que várias lideranças do MST tiveram esse processo de formação em Cuba, mantendo a chama dessa perspectiva da formação humana integral, completa, e outras experiências semelhantes na América Latina.
O terceiro grande fundamento do fazer pedagógico da ENFF é a própria Pedagogia do MST, a pedagogia do Movimento Sem Terra, que foi sistematizada por Roseli Salete Caldart, do setor de Educação do MST, que no seu doutorado fez essa elaboração, e se tornou uma grande referência, de como o MST forma as pessoas estando na luta; não precisa necessariamente de uma escola para formar, mas a escola é um instrumento importante dentro dessa organização da luta dos Sem Terra.
Caldart identifica os Sem Terra – com letras maiúsculas – como pessoas já inseridas numa construção coletiva, militante e consciente da luta, e os sem-terra – desorganizados e não alinhados às lutas – que não conquistaram sua emancipação pela condição social de não ter a terra, e não saberem como lutar por ela.
No Brasil, desde muitos anos, há uma tendência de autoridades não reconhecerem trabalhadores urbanos como ‘sem-terra’ pelo fato de terem se desligado do campo, e viverem ou terem nascido em favelas nas cidades. No início do século XX quase 80% da população brasileira era rural, e 20% urbana. Mas hoje essa lógica se inverteu, e mais de 80% dos trabalhadores vivem nas cidades. Mas esta situação não lhes tira a condição de sem-terra, e mesmo sem-teto.
(Comunicação AAENFF)