O primeiro e fundamental critério para qualquer pessoa se tornar aluna de um curso da ENFF, segundo a diretora Rosana Fernandes, é que não se trata de uma decisão individual de se fazer um curso. “A pessoa deve estar vinculada a uma organização social; não importa se é uma associação de bairro, pequenininha, ou se é um grande movimento articulado a nível nacional, mas tem de estar vinculado a um processo de luta coletiva”.
Para Rosana, “só faz sentido alguém fazer um curso na ENFF, se esta pessoa tiver a possibilidade de melhorar a sua militância dentro de uma determinada organização; não é para melhorar o lattes”. Na ENFF os resultados são excelentes, no crescimento pessoal, na vida e na participação desses alunos nas suas organizações de base.
Nesse processo a ENFF desenvolve a Pedagogia da Alternância, onde existe a possibilidade de organizar os cursos em etapas menores para aqueles que têm dificuldades maiores em se deslocar de suas comunidades ou de suas tarefas cotidianas. Os cursos são organizados em módulos, por exemplo, de cinco dias, e após dois meses, o aluno retorna à escola para mais um módulo, e assim por diante. Essa dinâmica possibilita melhores resultados e menor evasão.
O curso mais longo é de três meses consecutivos, oferecido às Organizações da América Latina, com presença maciça da juventude, porque esse público tem maior possibilidade de ficar neste período mais longo em um curso intensivo, onde permanece alojado na ENFF, que tem instalações para isso, dormitórios, refeitório, biblioteca, e toda a infraestrutura necessária.
A direção da ENFF ressalta que todas as educadoras e educadores são voluntários, ou seja, a ENFF não os remunera, até pelo caráter militante e modelo da Escola, com sua perspectiva emancipadora, e limitações orçamentárias próprias deste tipo de educação no país.
Outra característica da ENFF é que a educação ali não se caracteriza “apenas pela sala de aulas, tem outras dimensões, o estudo é uma importante dimensão desse processo formativo, é preciso ter algumas horas com o educador, a educadora que aprofunde determinados temas, mas também nesta programação está organizado o tempo para o trabalho, nessa perspectiva do trabalho como um princípio educativo; tantas horas vão para a horta, ou vão trabalhar com as crianças na cidade infantil, ou vão fazer a limpeza geral da escola”.
O trabalho contribui para a integração, coloca as pessoas em atividade, cria habilidades em coisas as quais as pessoas nem sempre estão acostumadas a fazer, “rompe com um certo machismo”, que muitas vezes está presente no comportamento dos homens que chegam na escola, pois segundo a diretora, “não é por ser militante de algum movimento popular, que chega na escola e está todo mundo vivendo os valores humanistas e socialistas”. Muitas vezes houve resistência de homens em fazerem tarefas “ditas femininas; às vezes não quer lavar o banheiro, arrumar a cama, não quer lavar a louça do almoço com o seu grupo que está responsável, porque em casa não faz”.
Mas essa organização do trabalho comunitário na ENFF vai fazendo essa resistência acabar, até pelo caráter pedagógico também de todas essas atividades paralelas às aulas, que são fundamentais também para o próprio funcionamento da Escola, que tem recursos limitados.
Outra dimensão da ENFF é a da organicidade, que se traduz na forma de organização da escola e de cada turma, em sua dinâmica interna, própria, estimulando a auto-organização dos estudantes. Por exemplo, na preparação de uma Noite Cultural, um grupo é responsável por levar o Datashow para a sala de aulas, outro é o responsável pela preparação da Mística que inicia o dia, e assim por diante. Todos fazem alguma coisa para dar conta de um dia de trabalho e estudos, e até de confraternização.
A Mística é compreendida como “manter a chama acesa, manter a chama do projeto social em permanente vigor; não é apenas uma abertura de dia. Quem conhece a escola, como nós fazemos, às 7:45 da manhã, é mais do que aquele momento. As pessoas têm de se sentir impulsionadas de estar na escola, de querer, de viver isso com entusiasmo, acreditando que estar nessa vivência vai fortalecer um projeto de sociedade que nós defendemos, que é o socialismo. Aqui a gente não tem o receio de falar de comunismo, de socialismo, de transformação e a mística vai impulsionando este pensar. Claro, tem muitos debates, tem muita compreensão do que é necessário fazer, tem muitos aprofundamentos em que é preciso chegar, mas a Mística ajuda a motivar pra gente ter a vontade de pensar nesse projeto de mudança”.
São essas dimensões na perspectiva da formação humana que se ressalta em especial, como o grande projeto da Escola Nacional Florestan Fernandes, mudando muitas vidas. Há muitos depoimentos de ex-alunos neste sentido, de que a escola contribuiu para suas formações, na melhoria da qualidade da militância, na perspectiva de ‘ser’ no mundo, de ser um sujeito histórico de fato.
(Comunicação AAENFF)