Última Live do ano da Amigos ENFF teve análise sobre o presente e o futuro que o Brasil espera para 2022 após um dos piores anos de nossa história
O Canal Amigos ENFF, em parceria com os Canais do Barão e Brasil de Fato realizaram nesta quinta-feira, 2 de dezembro, uma Live com a economista Ju Furno, e os professores Valério Arcary e Igor Fuser, em que os entrevistados fizeram uma “Análise de Conjuntura Brasileira e Internacional”.
Para os entrevistados, há uma crise mundial e uma polarização entre a extrema direita e o campo democrático, num contexto de crise mundial, agravada pela pandemia e pela consequente desestabilização econômica, que levou a mais pobreza e miséria.
Fim da Hegemonia dos EUA
Igor Fuser crê que “escapamos no início do século XXI daquilo que seria o pior pesadelo, de um poder unilateral, de uma hegemonia dos Estados Unidos, em que eles reinassem como uma única superpotência, com o poder de decidir de acordo com o seu interesse, todas as questões internacionais, um mundo que seria um império americano. Depois de terem passado o século passado inteiro negando a sua condição de imperialistas, na virada do século eles passaram a ver essa expressão, até essa ideia, “vamos ser imperialistas sim”, dizendo que isso seria o melhor para o mundo, melhor que seja um império americano, do que uma outra potência viesse a dominar. Esse plano fracassou.
“Mas também fracassou aquilo que seria um sonho da diplomacia brasileira na época dos governos petistas, que seria um mundo multilateral, multipolar, que teria como símbolo os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); esse mundo multipolar está cada vez mais distante”. Fuser diz isso, porque vê, que em primeiro lugar, desde o golpe de 2016 o Brasil está cada vez mais alinhado aos EUA, e também porque outros membros do BRICS deixaram de se empenhar pela multipolaridade. Hoje, para ele, há uma nova bipolaridade, de um lado EUA, Europa, Japão e Coreia do Sul, por exemplo, e do outro lado, China e Rússia, com alguns países em seu torno.
Ovo da Serpente
Para Ju Furno, “Bolsonaro seria o ovo da serpente nesse sentido, ele é produto de um momento histórico, que em geral, governos de natureza neofascista se processam em períodos de aguda crise”.
A economista acredita que “não foi meramente uma derrota política o que a esquerda sofreu com o golpe de 2016, portanto tem elementos de caráter mais estrutural, estratégico, inclusive de dimensões ideológicas, ou seja, uma derrota estratégica, que diz respeito à capacidade de um cerco e aniquilamento sobre a esquerda brasileira, aniquilamento físico, moral e também político”.
Na América Latina, Fuser vê uma instabilidade política profunda, alguns governos de esquerda, outros de direita; deu como exemplo o Chile, onde há polarização nas eleições entre um candidato de extrema direita contra um de esquerda.
“O que está em jogo no Brasil é um embate de dimensões globais entre, de um lado o fascismo, e de outro lado, algo que é muito difícil definir, mas que a gente pode chamar de civilização, mais do que democracia”.
Valério Arcary avalia que “temos no governo uma corrente de direita fascista, que depois de três anos de governo tem entre 20 e 25, algumas pesquisas sinalizam até quiçá, 30% de apoio”. Para ele, portanto, “a audiência do discurso da extrema direita nas camadas populares do semiproletariado urbano também é chave para entendermos como chegamos aqui”.
Como enfrentar 2022
Ju Furno acredita que, num contexto desfavorável à esquerda, ela “não pode prescindir de uma capacidade de articulação com mais setores da sociedade que não somente o nosso espectro”. Mas é crítica de um alargamento exagerado desse arco de alianças que alcancem até políticos como o ex-governador Geraldo Alckmin. Para ela, a força de um governo petista e de esquerda, só pode ser novamente atingida por uma “base social permanentemente organizada; obviamente as eleições de 2022 têm um caráter estratégico”. Furno acredita que “a candidatura Lula é a que vocaliza as demandas populares, é o que polariza a luta de classes hoje no Brasil, é a candidatura representativa da esquerda brasileira”.
Arcary lembra que o atual governo tem ainda um ano de mandato, e “embora as pesquisas de opinião sinalizem um favoritismo do Lula, seria de uma imensa inocência imaginar que o ano de 2022 no Brasil vai ter uma campanha eleitoral, um debate civilizado através da televisão, da rádio, dos programas de entrevistas. O Brasil não é a Dinamarca, nós vamos ver uma bagunça em 2022; nós vamos ter um cenário de uma luta feroz, dramática”.
Valério Arcary lembra que “o que produz atração não é se ajoelhar diante dos outros, o que produz atração é força. Se o PT defender a sua base social, falar de trabalho, salário, reforma urbana, direito à habitação, reforma agrária, se falar dos direitos reprodutivos das mulheres, se falar a favor de cotas, se falar que vai acabar a matança nos bairros periféricos… Eu estou falando num programa de reformas capaz de despertar entusiasmo”.
“A gente pensa que a campanha eleitoral vai ser pela televisão e pelo rádio, e vai haver debates civilizados com Bolsonaro? Campanha eleitoral vai ser na rua, e eles vão colocar centenas de milhares de fascistas nas ruas, fizeram no 7 de Setembro, imagine o que vai ser um comício eleitoral do Bolsonaro, vai ser um filme de terror! E nós vamos ter que tentar responder colocando gente na rua, nós não conseguimos fazer isso este ano em grande escala”, diz Arcary.
Arcary acredita que “em algum momento o Brasil vai explodir, já explodiu em 2013, nós não sabemos quando, pode ser explosão cega e surda, como foi essencialmente o movimento de 2013, mas explode, (aqui) não é a Dinamarca. É por isso que eu penso que tem que ter uma Frente de Esquerda, e nós temos de nos preparar para uma campanha eleitoral como a de 1989; e quem poderia ser o vice (de Lula)? Uma mulher de preferência, negra, de preferência, que seja a expressão do movimento urbano, do movimento de mulheres, que signifique uma sinalização geracional, política e social; uma mulher mais jovem do que o Lula, não nos enganemos, o Lula tem mais de 75 anos, fez 76 anos; seria uma boa alternativa”, conclui.
QUEM SÃO
Ju Furno é doutora em Desenvolvimento Econômico (Unicamp), assessora parlamentar na Câmara Federal e militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular, organizações populares de esquerda. Também colabora com o Jornal Brasil de Fato, onde mantém uma coluna, e titular do Canal Ju Furno, sobre Economia, no Youtube.
Valério Arcary é Doutor em História pela USP, professor titular aposentado no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), estudou na Universidade de Paris e Lisboa entre 1974/78, participou da ‘Revolução dos Cravos’, em Portugal, voltou ao Brasil atuando na fundação do PT e da CUT nos anos 1980, tendo já atuado no PSTU como dirigente nacional, e mais recentemente, no PSOL. É autor de O Martelo da história, entre outros livros.
Igor Fuser é Jornalista, Mestre em Relações Internacionais, Professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). Doutor em Ciência Política pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Autor dos livros “Geopolítica – O Mundo em Conflito” e “A Arte da Reportagem”, entre outros. Colaborador e membro do Conselho Editorial dos jornais Brasil de Fato e Le Monde Diplomatique Brasil.
ASSISTA NA ÍNTEGRA:
“Análise de Conjuntura Brasileira e Internacional”, com Ju Furno, Valério Arcary e Igor Fuser.
No Youtube, em: https://www.youtube.com/watch?v=NXd5lG9XSNQ
Assessoria de Comunicação – AAENFF