Na segunda-feira, 5 de julho foi realizada mais uma Live do Canal Amigos ENFF, em parceria com os Canais do Barão eLevante Popular da Juventude no YouTube, com o tema: “Racismo de Estado e as Lutas Antirracistas”.
Para contribuir com essa reflexão foram convidados os militantes Luma Vitório e Gerson Oliveira. Luma Vitório, da Coordenação Nacional da Periferia Viva, já integrou o Levante Popular da Juventude e o MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens, no Vale do Ribeira, e hoje é também militante da Consulta Popular.
Gerson Oliveira, geógrafo, membro do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho – CEGeT, é da Coordenação Estadual do MST em São Paulo, e um dos articuladores do programa ‘Análise de Conjuntura’, do Canal do Movimento Sem Terra no YouTube.
Crise e Genocídio
Para Luma Vitório “estamos vivendo um momento muito complexo de crise que se aprofunda cada vez mais com um governo genocida, que tem também o racismo como uma das principais ferramentas para vitimar o povo brasileiro”. Gerson Oliveira concorda e diz que “quando se trata da questão do racismo, do genocídio, a gente não tem como não falar do governo Bolsonaro, do caso Marielle”. Gerson disse que um acampamento do MST em Valinhos, no interior paulista recebeu o nome de Marielle Franco, por tudo o que ela representa na luta popular e antirracista. “O governo Bolsonaro vem puxando o discurso de ódio, mais do que um discurso, uma prática, uma ação política, onde a morte passa a ser um emblema, uma palavra de ordem desse governo. E eles têm organizado, não só as milícias, como as polícias e o próprio exército para levar a cabo esse projeto de morte”. Gerson cita que durante a intervenção militar no Rio de Janeiro, em 2018, ocorreram mais de 1.500 execuções na cidade, nas vésperas das eleições, “e esses coronéis e generais que estavam comandando a intervenção militar no Rio de Janeiro, como o Braga Neto, são hoje peças-chave desse governo”. Ele diz que vários desses militares “estão hoje na linha de frente do bolsonarismo”.
Gerson diz que o governo Bolsonaro com sua política de morte, fez “todas as ações para que a pandemia (do Coronavírus) pudesse se alastrar o mais rápido e da forma mais mortal possível para os brasileiros; esse governo trabalha com a morte em todas as frentes, é uma perspectiva de totalidade, desde a pandemia, a execução direta, o encarceramento, a fome, corte das políticas sociais, da moradia, paralisação da reforma agrária. Então a morte permeia esse governo em todas as suas dimensões, quando se trata da população brasileira, em especial a população negra”.
Gerson constata: “Os negros sempre foram maioria no extermínio policial, mais de 85% das mortes; os autos de resistência são quase a palavra padrão quando um jovem negro é morto; é porque resistiu à prisão, e mereceu ser executado”. Para ele são falsos argumentos que justificam para a classe média e para alguns setores, para quem as vidas negras não importam, são culpados por antecipação e condenados à morte sem qualquer julgamento.
Racismo e violência: questões para o debate eleitoral
Para Luma, nas eleições de 2022 um dos pontos centrais do debate deve ser a questão da segurança pública e da violência contra os mais pobres, negros e negras. “Um governo não se sustenta apenas pela vitória eleitoral, mas também na construção de força social”. Para ela, “o povo brasileiro vive cotidianamente com medo de sua casa ser arrombada, por exemplo, numa operação policial”, especialmente as que vivem nas periferias. Luma também acredita que cada vez mais mulheres negras têm que discutir e enfrentar o seu papel na política, sem secundarizar o debate de classes.
Luma acredita que “não tem como não entender esse Estado brasileiro e como ele se alimenta do racismo sem olhar para a nossa história; esse é um desafio para a própria esquerda brasileira. Esse é um estado que foi gestado em 400 anos de escravidão. Se a gente não consegue olhar para o nosso passado, como a gente projeta e coloca esses sujeitos num projeto de país para o nosso futuro. A reforma trabalhista e a reforma da previdência, essas reformas vão afetar e precarizar qual trabalho no Brasil? É lógico, que o conjunto dos trabalhadores, mas esse conjunto tem sua cor, tem seu local inclusive, estão nas periferias do Brasil. Luma diz que inclusive nos índices de violência, por exemplo, são as mulheres negras e pobres as maiores vítimas do feminicídio.
Quanto à luta dos negros e negras, para Luma a questão da “identidade é fundamental; ninguém vai se organizar enquanto negro se não entender que é negro”. Para ela a consciência dessa negritude é o primeiro passo da conscientização social, numa espécie de reconciliação com o passado africano.
Classe trabalhadora é negra
Para Gerson “a gente precisa entender que a classe trabalhadora brasileira é a classe trabalhadora negra, são negros e negras que compõem a classe trabalhadora”. Ele lembra que os espaços de resistência dos trabalhadores em sindicatos estão sendo esvaziados pelos ataques que vêm sofrendo, mas também pela precarização que levou milhões de pessoas à informalidade. Para ele há uma população nos novos movimentos sociais – e não mais sindicais apenas – “que foi descartada dessa possibilidade de ter um contrato, ainda mais agora em tempos de reforma trabalhista, de reforma previdenciária, um conjunto de ataques; então, a base desses movimentos é formada pelos precários, são aqueles mais explorados que estão fora do mercado de trabalho”. Gerson crê que são essas pessoas que devem ser trazidas para o centro do debate político.
Para ver a Live completa com esses lutadores do povo, Gerson e Luma, veja no Canal Amigos ENFF no YouTube, em: https://www.youtube.com/watch?v=YiH_5rkx0cw&t=6s
Comunicação Amigos ENFF